Nota Curatorial de WHAT IS LEFT, por Serena Vittorini
Conheci a Marian Lens ao fazer uma fotorreportagem sobre ela, para destacar a sua vida como ativista lésbica na Bélgica. O que me impressionou imediatamente foi o vasto arquivo que ela criou e acumulou ao longo dos anos. A minha reportagem focou-se neste arquivo extenso – um foco específico que já usara em projetos anteriores.
Este arquivo é uma recolha significativa de conhecimento e memória, uma vez que coleta, grava, preserva e transmite objetos históricos e documentos para o presente e para o futuro. Esta coleção do passado, estrutura a memória histórica e previne a perda de material valioso que deve ser transmitido às gerações futuras.
Além disso, exibições artísticas baseadas em arquivos permitem uma reinterpretação do passado com vários níveis de interpretação, questões sobre realidade e ficção, um contributo para revigorar a ligação entre a memória individual e a coletiva. São assim cruciais para entender a identidade de um indivíduo na sociedade. Nos anos mais recentes, no contexto da prática artística, os arquivos tornaram-se uma plataforma frutífera para estimular a produção de arte contemporânea e pesquisa teórica. Arquivos estão a ser descobertos e digitalizados a um ritmo mais rápido do que nunca .
Novas maneiras de apresentar as interações do arquivo estão a ser desenvolvidas constantemente, permitindo o entendimento de multimédia importante e instalações de arte multidisciplinares. Além disso, quantos mais artistas e investigadores trabalharem neste campo, mais entenderemos que há uma enorme quantidade de objetos e imagens já produzidas à espera de serem redescobertas e reinterpretadas. É por isso que decidimos criar esta instalação na Livraria Aberta do Porto, composta por uma seleção de documentos históricos que a Marian Lens guardou durante a sua vida como ativista lésbica e os seus pensamentos em formato escrito.
Iremos formalizar este material no espaço da livraria através de um mapa mental que associará os documentos históricos com a experiência do indivíduo, criando um paralelismo importante, que visa examinar as conexões entre a memória coletiva e a individual.